Aniello Greco
Não há nada como o tudo, o mais são coisas
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O sábio e o gênio

O sábio e o gênio

 

Quando alguém fala em um sábio, qual é a primeira imagem que vem a sua cabeça? Talvez seja um monge, no alto de uma montanha. Peregrinos passam por provações para chegar no mosteiro do sábio e ao chegar tem direito a fazer uma pergunta. O sábio oferece uma resposta, e o peregrino fica anos meditando sobre o significado dela. Até perceber que ele já sabia, mas não aceitava a verdade.

 

E como você imaginaria um gênio? Alguém descabelado, com roupas esfarrapadas, um tanto petulante e estranho, que fala coisas que ninguém entende, mas que entenderão daqui duas gerações. Talvez. Talvez nunca entendam.

 

E se formos comparar os dois estereótipos, veremos uma coisa curiosa. Existe o gênio do mal, que desenvolve armas de destruição em massa ou planos de dominação mundial. Alguém que é tão inteligente e tão pouco sábio que acaba perdendo o contato com o próximo e se acha acima do bem e do mal. O oposto não existe. Um sábio que fosse estúpido a ponto de usar sua sabedoria de forma maligna.

 

O gênio é um desequilibrado, alguém que por nascer diferente brilha demais em algum campo em detrimento de outros. O sábio é o equilíbrio, que descobriu o caminho que todos nós deveríamos seguir.

 

A sociedade parece valorizar os gênios, mas na verdade nós vemos a genialidade como algo arriscado. Pode dar grandes lucros, ou terríveis prejuízos. E isto se baseia em um temor da inteligência. Não é nada incomum o sentimento antiacadêmico, a resistência e a desconfiança daquela estranha elite que estuda em seus castelos mas pouco ou nada entendem da vida. Já o conhecimento prático, da vivência, daquilo que funciona no dia a dia é valorizado como se fosse o segredo para o bem viver e atingir a iluminação.

 

Mas eu, que desde criança fui chamado de inteligente e raramente sou chamado de sábio penso o exato oposto. E apesar de ter superado a ingenuidade de me achar um gênio, continuo achando a inteligência minha melhor característica. Desconfie, pois quero vender o meu peixe. E para tentar te convencer que precisamos mais dos gênios que dos sábios, vou pedir para você comparar dois raciocínios.

 

1 - Todo gato mia em si bemol.

O Everest é um gato.

Logo o Everest mia em si bemol.

 

2 - Platão era grego, e era um filósofo.

Sócrates era grego .

Logo Sócrates era um filósofo.

 

O primeiro raciocínio só contem coisas falsas, e o segundo só contem coisas verdadeiras. Deveríamos então preferir o primeiro, certo? Errado.

 

Apesar do raciocínio do Everest ser totalmente irrelevante e inútil, ele esta organizado de uma forma coerente, correta. Se todos os gatos miassem em si bemol, e o Everest fosse um gato, então o Everest miaria em si bemol. Já o segundo pode até ser um raciocínio útil, pois com ele você aprende que Sócrates era um filósofo. Mas esta logicamente errado, é um raciocínio inválido. E se você não entende o erro e continua pensando da mesma forma, poderá cometer erros. Por exemplo, você poderia concluir que Homero era um filósofo.

 

Se você segue uma forma de pensar correta, e tiver hipóteses corretas, sempre chegará a uma conclusão correta. Só errará se você começar com hipóteses erradas. Mas se você pensa de uma maneira inválida, pode até acertar ocasionalmente, mas na maioria das vezes irá errar, mesmo partindo de hipóteses corretas.

 

É um tanto contra a nossa intuição, mas o mais importante não é chegar na resposta correta, mas sim aprendermos a pensar da maneira correta. A resposta correta seria dar o peixe para quem tem fome. Funciona para aquele instante. Já o pensamento correto seria o ensinar a pescar. Nem sempre o pescador terá o peixe, mas terá um meio de não passar fome.

 

A sabedoria prática, cotidiana, é uma coleção de tentativas e erros, de conhecimento desordenado misturado com preconceitos e aproximações. Já a análise científica, acadêmica, pode muitas vezes trazer conclusões estranhas, impraticáveis ou até inadequadas em uma situação cotidiana. Mas o importante da ciência não é o conhecimento em si, mas sim o método, a forma de pensar. E é com ela que as conclusões hoje estranhas se transformaram na sabedoria de amanhã. Os sábios de antigamente apontavam que a Terra não se move, pois não sentimos seu movimento. Foram necessários gênios para romper este erro, hoje um tanto estúpido.

 

Estamos muito habituados a nos orientar somente em termos de erros ou acertos, ao resultado final, e não estamos acostumados a lembrar que até um relógio quebrado esta certo duas vezes por dia. E também que mesmo os gênios não são omniscientes, e acabam errando ocasionalmente.

 

Este erro nos leva a erros reais e pouco sábios. Costumamos a nos ater a nossa sabedoria cotidiana e rejeitarmos a crítica inteligente, mas desafiadora. Quando um cético desafia nossos conceitos arraigados, costumamos a descartar como falta de sabedoria ou de sensibilidade. Ou até como preconceito do crítico.

 

Como aquele universitário arrogante quer desafiar tantos médicos que me receitam homeopatia? Como aquele físico é cego e mente fechada para negar a sabedoria milenar da astrologia? Como aquele cético fica teimando que a cura espiritual do meu médium foi uma farsa? Estudaram tanto que endureceram os seus corações.

 

Devemos tomar cuidado ao manter a mente aberta demais. As vezes o cérebro pode cair. Prefiro ocasionalmente estar errado, mas pensando de forma correta, que acertar por acaso, costume ou preferência.

 

Não sou gênio, nem sábio. Mas tento me aproximar mais da genialidade que da sabedoria.

 

 

 

 

 

Aniello Greco
Enviado por Aniello Greco em 25/06/2022
Alterado em 25/06/2022
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